Bugs difíceis de achar

Saiu um artigo na Wired News sobre os piores bugs da história. Entre eles estão a explosão de um oleoduto soviético em plena guerra-fria (como se não bastasse chernobyl), o primeiro worm da Internet (que se aproveita de um buffer overflow da função gets) e o famoso erro de divisão em ponto flutuante do Pentium: um erro de cálculo de cerca de 0,006% que causou um prejuízo de 457 milhões de dólares para a Intel.

Mas o que achei mais legal, apesar de não estar na lista, estava relacionado com o Mariner 1, primeira espaçonave de um programa da NASA para pesquisar Marte, Vênus e Mercúrio em võos automatizados. O Mariner 1 não chegou a sair de órbita, pois houve uma falha na antena de comunicação entre módulos e um bug no programa do computador de bordo.

Falava-se que o bug havia sido gerado ao trocar uma vírgula por um ponto em um loop escrito em FORTRAN. Apesar de não ter sido esse o causador da falha do computador da nave do projeto Mariner, ele existiu de fato em outro projeto da NASA, o Mercury. A linha fatal no caso era essa:
DO 17 I = 1. 10
É óbvio que a intenção do programador foi fazer um loop até o label 17 dez vezes, pois a instrução para isso é:
DO 17 I = 1, 10
Mas pela troca da vírgula pelo ponto, e como em FORTRAN os caracteres de espaço não são significativos, a linha com o bug não representa mais um loop, mas uma atribuição à uma variável chamada "DO17I":
DO17I = 1.10
Esse detalhe esdrúxulo de uma das linguagens mais famosas da época nos leva a crer que antigamente os programadores deveriam estar muito mais atentos durante a digitação de código do que os programadores de hoje em dia, com seus
ambientes com verificação sintática embutida. Existe inclusive um texto humorístico de longa data comparando programadores de verdade e programadores de linguagens estruturadas como PASCAL recém-saídos da faculdade, carinhosamente citados no texto como "Quiche Eaters" (comedores de pastelão).

O tipo de erro de falta de atenção do programa da NASA lembra uma das mais duras críticas às linguagem C e C++: é fácil escrever um código errado do ponto de vista lógico mas sintaticamente correto (compilável). Alguns exemplos famosos:
/************************************************/
// batata entre os iniciantes
if( isActived && isTimeToLaunch );
doTheStuff();

// dizem que até Brian Kernighan
// (criador do C) criticava

switch( value )
{
case 10:
evaluateSentence();
case 11:
elevenException();
}

// mais um "top beginner"
if( newValue = 20 )
doSpecificStuff();

// infelizmente isso é muito comum
int calcPayment()
{
if( testing == true ) return 1000;
else if( newValue > 500 ) return 1500;
}

// o perigo dos brackets opcionais
if( value == 12 )
//func();
doSpecificStuff();

/**************************************************/
Dessa coleção de problemas, o compilador nos brinda com dois warnings:
warning C4390: ';' : empty controlled statement found; is this the intent?
warning C4715: 'calcPayment' : not all control paths return a value
Em nível 4 para aviso de erros (o padrão de um projeto é 3) há um warning adicional:
warning C4706: assignment within conditional expression
Agora imagine o número de horas noturnas em frente ao micro que você não poderia ter economizado em sua vida se aumentasse o nível de warning e lêsse-os de vez em quando? Nada é infalível e você deve ter plena consciência disso.

É por isso que aprender bem a base é essencial para compreender o assunto de forma mais ampla e evitar erros no futuro. Uma das coisas que aprendi ao longo do doutorado é que não adianta pular etapas no aprendizado. As falhas e dificuldades vão aparecer uma hora ou outra e será necessário voltar para a base.

Mas e aí? Tente ver onde estão as falhas nos códigos acima. Você consegue? Comente! Em outra ocasião eu escrevo sobre isto.

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