Algumas mentiras sobre programas CFD


Em uma conferência sobre CFD, o pesquisador N. L. Johnson do Laboratório Nacional de Los Alamos (nacional pro norte-americanos, né?) colocou ao final de sua apresentação um tópico que eu gostei muito. "As grandes mentiras sobre códigos/programas de CFD". Provavelmente ele ouviu essas afirmações de algum representante de vendas que esperava convencê-lo das "vantagens" em adquirir seu programa CFD. Sem dúvida alguma são muitas as vantagens em se utilizar CFD como ferramenta, mas não as colocadas abaixo!!!

  • O programa de CFD tem modelos para resolver todos os seus problemas.
Bem, isso provavelmente é verdade se os seus problemas forem de física simples, com modelos validados experimentalmente e bem representados na literatura. Contudo, muitas situações físicas ainda não possuem modelos confiáveis. A pesquisa de novos modelos com aplicações mais gerais e fisicamente corretas é intensa e, sem dúvida, os programas CFD irão evoluir junto com a pesquisa. Mas não ao ponto de sempre poder afirmar a frase colocada acima...
  • Você não precisa saber os detalhes da modelagem do fenômeno para resolver o seu problema.
Pois bem! Quero resolver a condução de calor em um sólido qualquer, mas não sei o que significa aquele 'k' que o programa insiste para se forneça um valor. Afinal, não conheço o modelo... Ou então, vamos também resolver as equações de turbulência e radiação térmica em um problema de condução pura! Afinal, não conheço o modelo e não sei se é o apropriado... Vixe Maria! Eita mentira deslavada!!
  • Você não precisa entender de métodos numéricos para obter a solução do seu problema.
Você sabia que existem métodos numéricos que são específicos para tratar certas situações físicas e não funcionam bem para casos mais simples? Ou métodos de solução que são muito mais rápidos que outros, mas isso depende do tamanho da malha? Pois é, se você não conhece a metologia numérica, como vai avaliar se ela está sendo aplicada de forma correta ou mesmo se ela é a mais apropriada para o seu caso?
  • O manual explica tudo que existe como versão release no software.
A cada versão liberada de um software, novas características são incluídas, antigas são modificadas e as obsoletas são retiradas (ou ficam escondidas). Nenhum manual reporta todas as capacidades de um software. As características gerais, as que atingem o usuário comum, estão provavelmente descritas no manual. Contudo, se usuário quiser se aprofundar nas capacidades do software (implementação de modelos, métodos numéricos e programação), vai ter que ralar um pouco mais para aprender pois apenas o básico é colocado nos manuais. É muita pretensão achar que o manual vai explicar TUDO...
  • A saída gráfica é padronizada, compatível com metade dos pós-processadores.
Se o formato da saída de resultados possui um padrão, como é que a mesma pode ser compatível com outros pós-processadores (que usam outro padrão)??
  • Executável em todas as máquinas sem necessidade de adaptações.
Nossa Senhora do Pai do Céu!!! Como eu gostaria que fosse assim... Sempre tem alguma atualização ou um "pulo do gato"... E até o hardware deve ser propício para a execução do programa.
  • Interface amigável.
Aí está algo que está se tornando verdade... Mas os programas CFD ainda não são tão fáceis ou intuitivos como um editor de texto tipo MS Word ou OpenOffice Writer.
  • Não existem mais erros no código, somente características não documentadas.
Estão chamando os erros de implementação assim agora? Deve ser porque não fica bem documentar aquilo que não está funcionando.
  • Você pode rodar o software sem o manual.
Hã???? Você vai partir de onde para aprender a usar o software? E como vai saber se aquele modelo de turbulência específico para o seu problema está implementado ?? O manual pode não ter tudo, mas sempre será a sua referência para o aprendizado.

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